Counter Attack: A magia do futebol e dos jogos de tabuleiro
O jogo de estratégia que chegou à Mata Real
Temos o futebol jogado nos relvados, o futebol jogado nos pavilhões e até o futebol disputado na PlayStation. E agora temos o futebol praticado como jogo de tabuleiro. O Counter Attack é um jogo de estratégia e David Teixeira representa o FC Paços de Ferreira no campeonato.
“Este é um jogo fácil de aprender, mas difícil de dominar. O nível de profundidade tática é realmente impressionante. Os jogos são injetados com drama real, e nada se compara a uma jogada de dados bem-sucedida, podendo resultar numa defesa ou numa bola no fundo das redes adversárias”. Esta é apenas uma das várias reviews que se podem ler no site counterattackgame.com sobre o novo jogo que chegou à Mata Real. E David Teixeira pode confirmá-lo.
O Counter Attack é um jogo de futebol de tabuleiro e David Teixeira o representante do FC Paços de Ferreira que disputa as competições oficiais. David começou a jogar Counter Attack há pouco mais de um ano, depois de ter tido conhecimento deste jogo através de um anúncio no Instagram: “Entrei em contacto com eles. Na altura estava a colaborar com o jogo Football Manager e fazia parte da pesquisa portuguesa, então enviei uma mensagem para saber se queriam mandar uma cópia e eu fazia uma review e publicava no nosso site. Eles aceitaram com muito gosto e foi o que fiz. A partir daí, fiquei envolvido”.
Assim começou. David Teixeira juntou-se há comunidade de jogadores de Counter Attack e, durante o primeiro confinamento, “houve uma espécie de campeonato experimental em que todos jogaram e, com base nas posições desse campeonato, foram definidas as equipas que iam estar em cada divisão”. Da terceira divisão à primeira, existe um grupo único, e a quarta é composta por subgrupos. David ficou inserido na segunda divisão (com mais dez participantes) ficou em primeiro e, na próxima temporada (que arranca no final deste mês), vai disputar a primeira divisão. Apesar de ser um jogo de tabuleiro e o intuito ser jogar-se presencialmente, devido à COVID-19 foi organizado um campeonato online, para que pudessem continuar a jogar uns com os outros. Até porque há participantes de vários países.
Mas, afinal, como se joga futebol através de um jogo de tabuleiro? Ora temos um “relvado”, jogadores, bolas, árbitros… Nas cartas estão representados vários jogadores, e cada um deles “tem um set de atributos diferentes que, basicamente, vão influenciar o que é que cada um pode ou não pode fazer durante um jogo e determinar com que qualidade vão fazer essas essas ações”, explica David. As cartas são as mesmas para todos os jogadores de Counter Attack, mas de jogo para joga nunca têm a mesma equipa. “O que acontece é que nós baralhamos as cartas e depois, à vez, vamos escolher até termos 14 jogadores. Isto introduz variabilidade ao jogo, porque não jogamos sempre com a mesma equipa e temos de nos adaptar ao que nos sai”, acrescenta. As características dos jogadores presentes nas cartas são:
• Velocidade: Determina quantos hexágonos o jogador se pode deslocar numa Fase de Movimento.
• Finta e Desarme: Quando um adversário tenta um desarme, compara-se a pontuação combinada (valor da carta + resultado do dado) da finta de um com a pontuação combinada de desarme do outro.
• Cabeçada: Utiliza-se numa disputa por um cabeceamento, ou para fazer face à pontuação combinada de defesa de um guarda-redes, no caso de um cabeceamento à baliza.
• Passe alto: É necessária uma pontuação combinada maior ou igual a 8 para fazer um passe alto com sucesso.
• Resiliência: Quando o jogador sofre uma falta, lança-se o dado. Se o resultado for igual ou maior do que a característica de resiliência do jogador, então ele lesiona-se.
• Remate: Se a pontuação combinada de remate é maior do que a pontuação combinada de defesa do guarda-redes, é golo.
“Nós podemos fazer aquilo que se faz num jogo de futebol: passar e movimentar-nos para tentarmos fazer golos. Durante o jogo, o que se faz geralmente, depois de se seguir com o passe, é o movimento. Como é que eles se movimentam? Podem andar o número de espaços correspondente ao seu atributo de velocidade. Depois, a outra equipa vai, claro, tentar fechar o espaço, tentar ganhar-me a bola, e se não conseguisse eu ia poder novamente passar, rematar… E assim seria durante 90 minutos”, explica David. Sim, porque cada jogo também dura 90 minutos – 45 para cada parte, com o cronómetro pausado nos tempos mortos.
Mais algumas regras: quando um jogador tenta desarmar, lança o dado e sai um 1, é falta. Quando terminamos uma fase de movimento, podemos passar a bola a quem quisermos, a não ser que esteja um adversário diretamente na linha. Tudo acontece, tal como num jogo real.
“A situação do desarme e drible, por exemplo, pode parecer que é um bocado à base de sorte, mas como há jogadores que têm mais desarme e outros mais drible, nós temos de prever mais ou menos o que é que o adversário pode fazer e evitar que fique com vantagem neste atributo”, diz David. “E há muitas situações que são únicas. Às vezes, a mesma ação que fazemos pode dar origem a duas situações completamente diferentes. É um jogo muito imprevisível. Cabe a nós planear ao máximo aquilo que podemos fazer. Claro que também há a sorte dos dados, mas o nosso trabalho é também mitigar essa sorte. Fazer com que ela não seja assim tão importante”, acrescenta.
David Teixeira diz que ao fim de duas ou três partidas já se sabe como jogar. No entanto, “paciência” é a palavra-chave, no início. “É preciso muita paciência e, principalmente, estratégia. E boa disposição! Porque às vezes há uma ou outra pessoa que não é tão desportiva. Não é muito divertido jogar contra pessoas que levam isto demasiado a sério. [Risos] Mais para o fim do jogo, principalmente quando está um resultado muito equilibrado, as pessoas tendem a exaltar-se mais um pouco”. Quase como num jogo de futebol a sério.
O jogo está desenhado para ser um contra um, mas já começa a haver quem tenha ao seu lado um analista que ajuda na tática e na análise do adversário – e há quem chegue a escrever relatórios com mais de 60 páginas! David, contudo, vai a jogo sozinho: “Quando sei que vou jogar contra uma pessoa, tento sempre ver pelo menos um bocadinho do seu jogo anterior. Ver mais ou menos o estilo de jogo, que jogadores procura ter na equipa, e depois vou pensar um bocadinho sobre como vou contrariar esse estilo”. Tenta, a cada dois ou três dias, ver ou jogar um jogo – apesar de preferir jogar a ver – mais não mais do que 40 minutos. Para se preparar para um desafio, vê o que falhou no seu último jogo e procura alternativas para contornar isso: “O meu adversário pode ter visto o jogo, visto que falhei, e querer ir por aí. Assim, será apanhado desprevenido”.
David Teixeira é natural do Peso da Régua, mas mora em Paredes. Sempre gostou de futebol e também jogou – tendo-se mudado depois para o futsal –, e o seu irmão, Gonçalo Teixeira, chegou a jogar na formação dos Castores. Daí veio também a sua vontade de levar o nome do FC Paços de Ferreira até ao campeonato de Counter Attack. Entrou em contacto com o clube e assim foi. “Nos últimos quatro jogos, já comecei a jogar com o nome FC Paços de Ferreira. Por acaso ganhamos todos! Isto despertou alguma curiosidade noutros jogadores, e muitos mandaram mensagem a perguntar o que é que tinha feito… Disse que os contactei, porque tinha alguma ligação ao clube, e achei que era uma forma de o jogo ter mais visibilidade, porque acho que merece”, conta. Algo que, naturalmente, levou a que muitos companheiros de outros países ficassem também curiosos em relação ao emblema da Capital do Móvel.
“Ainda não é muito comum os jogadores de Counter Attack associarem-se a clubes. A primeira pessoa que o fez foi na Grécia, e partilhou a sua experiência e como o fez. Achei que era boa ideia fazer também, e, pelo que vi, havia mais gente com interesse em fazer o mesmo”, acrescenta.
O jogo ainda não é muito conhecido em Portugal (ao contrário do que acontece, por exemplo, em Inglaterra), apesar de se ter registado um aumento de jogadores. E muito pelo facto de não ser vendido nas grandes superfícies. Mas David espera conseguir converter alguns pacenses, à semelhança do que já fez com alguns amigos e familiares: “Penso que os adeptos do Paços podem ficar curiosos e querer experimentar. E espero mesmo que sim, porque é um jogo que gosto mesmo muito, e acho que tem potencial para ser algo que pode até ganhar uma base de fãs que permita originar um campeonato mais conhecido”. “Aqui temos mesmo a essência dos jogos de tabuleiro, em que estamos com os amigos à volta da mesa, a desfrutar e a desligar um pouco do digital – o que, por vezes, também é preciso”.
Para quem tiver curiosidade em experimentar, pode passar no site counterattackgame.com e até entrar no grupo do Discord da comunidade. Por cá, esperamos pelo regresso do campeonato para vermos o David e o FC Paços de Ferreira a vencer – agora na primeira divisão.
